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O progresso ético como ação filosófica

Epitteto

O intelectual pode viver um vida envolta por bons argumentos e erudita, mas com pouca alegria e tranquilidade. É por isso que se diferencia o sábio do intelectual. O primeiro sabe viver, o segundo ainda não. Possuir informações, saber argumentar, ter raciocínio apurado não necessariamente torna alguém sábio. Nesse sentido, a sabedoria visada pela filosofia requer algo diferente do mero bom desempenho intelectual ou argumentativo, como podemos ver abaixo:

(...) [Para Epicteto] o problema é quando se acredita que o progresso do filósofo acontece apenas por meio do aperfeiçoamento argumentativo ou pela capacidade de analisar discursos ou textos. É levando isso em consideração que Epicteto travou o seguinte diálogo com alguém que lhe ouvia:

Então me mostra aí o teu progresso. Do mesmo modo que, se eu dissesse a um atleta “Mostra-me tuas espáduas e teus braços”, e ele dissesse “Olha meus halteres”. Tu olharás teus halteres. Eu desejo ver o efeito dos halteres.
– Toma o tratado Sobre o Impulso e sabe como eu o li.
Prisioneiro! Não busco isso, mas como usas o impulso e o refreamento, como usas o desejo e a repulsa, como te devotas, como te aplicas, como te preparas: saber se de modo harmonioso ou não harmonioso à natureza. Pois se de modo harmonioso, mostra-me isso e te direi que progrides. Porém, se não de modo harmonioso, vai e não só interpreta os livros, mas escreve também outros tais. Que vantagem há para ti? Não sabes que o livro inteiro custa cinco denários? Então te parece que o que interpreta o livro vale muito mais que cinco denários? Assim, jamais busquemos numa parte a obra e noutra o progresso! (EPICTETO. Diatribes, I, 4, 12-17.)

Assim como o progresso do atleta não está em seus instrumentos de ginástica, mas no seu desempenho, o progresso do filósofo não pode ser medido pelos livros que leu, muito menos por suas interpretações de textos filosóficos, mas pelo aprimoramento de suas próprias ações. A atividade filosófica, nesse caso, mostra-se útil, pois orienta o ser humano a harmonizar-se com o que é natural, tendo por objetivo a serenidade característica de quem vive com sabedoria.”

O trecho citado acima é parte do meu artigo Ética e Atitude Filosófica em Epicteto, que foi publicado na Revista Prometeus (n. 29). 



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