“Poder-se-ia dizer que o que diferencia a filosofia antiga da filosofia moderna é que, na filosofia antiga, não somente Crisipo ou Epicuro são considerados filósofos porque desenvolveram um discurso filosófico, mas também todo homem que vive segundo os preceitos de Crisipo e Epicuro. Um homem político como Catão de Útica é considerado filósofo e até sábio, ainda que nada tenha escrito, nem nada ensinado, porque sua vida foi perfeitamente estoica. Ocorre o mesmo com homens de Estado romanos como Rutilius Rufus e Quintus Mucius Scaevola Pontifex, que praticaram o estoicismo demonstrando uma imparcialidade e uma humanidade exemplares na administração das províncias que lhes foram confiadas. Eles não são somente exemplos de moralidade, mas de homens que vivem todo o estoicismo, que falam como estoicos (Cícero diz explicitamente que eles recusaram um certo tipo de retórica nos processos aos quais foram submetidos), que veem o mundo como estoicos, isto é, que querem viver de acordo com a Razão cósmica. São homens que tentam realizar o ideal da sabedoria estoica, uma certa maneira de ser homem, de viver segundo a razão, no cosmos e com os outros homens. Não é somente uma questão de moral, todo o ser está envolvido. A filosofia antiga propõe ao homem uma arte de viver; a filosofia moderna, ao contrário, apresenta-se antes de tudo como a construção de uma linguagem técnica reservada a especialistas.”
HADOT, P. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga, p. 270-271.
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