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A lamentação e a plenitude


Conforme descreve J.-P. Vernant:

"Hipólito, ferido e sangrando, acaba de ser transportado; ele vê abrir-se diante de si as portas do Hades [reino dos mortos]. De repente, [a deusa] Ártemis aparece ao seu lado. O jovem reconhece-a, empenha-se em um último diálogo com ela, afetuoso e apaixonado: 'Ó senhora, vês o meu estado miserável?' O que responde a deusa? 'Vejo, mas aos meu olhos são proibidas as lágrimas'. οὐ θέμις: seria con­trário à ordem que olhos divinos chorassem pelas misérias dos mortais. Logo a deusa deixa Hipólito;"

Nota 17: "Um dos aspectos do trágico grego é essa solidão na qual o homem se encontra diante da morte e, mais geralmente, diante de tudo o que marca a existência humana com o selo da privação, do não-ser. Em meio a esses insucessos, a essas provações, no limiar da morte, o homem sente-se sob o olhar de um divino que se define pela sua perfeita plenitude de ser, sem relação, sem participação possível com o mundo da “paixão” [arroubos passionais humanos]. De modo que todo destino humano pode ser considerado ao mesmo tempo conforme duas perspectivas postas: do ponto de vista do homem, como drama, do ponto de vista dos deuses, como espetáculo longínquo, futilidade."

VERNANT, J.-P. Mito e Pensamento entre os Gregos, p. 282-283.

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